sexta-feira, 25 de abril de 2008

Guerra dos discursos: meio ambiente X economia

Uma verdadeira ‘guerra fria’ está em curso. Não, não estamos mais diante da guerra ideológica entre o mundo bipolar socialista e capitalista. Essa história já acabou. Entretanto, o século XXI, nos revela uma nova guerra, movimentada pela guerra de discursos a cerca da questão ambiental.

Essa é a ‘bola da vez’. De um lado estão os países desenvolvidos e a sua ganância econômica diante da questão. Do outro lado, estão os países ‘em desenvolvimento’, que brigam por um lugar no hall dos grandes. E, em jogo, a questão do desenvolvimento econômico aliado com as questões ambientais.

No último capítulo dessa batalha, o suíço Jean Ziegler, relator especial das Nações Unidas para o direito à alimentação, afirmou que a produção de biocombustíveis “é hoje em dia um crime contra a humanidade”.

Para termos uma noção exata da dimensão da acusação do suíço, o assassínio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista, assim o foi também considerado.

A explicação para tal afirmação é de que a produção de biocombustíveis em terras férteis reduz as áreas de plantio de alimentos contribuindo para o aumento de preços dos mantimentos.

Estamos diante de dois tipos de discursos: o econômico e o ambiental.

Atualmente, o Brasil é o líder de exportação de biocombustíveis com base no etanol do mundo, sendo que este é um mercado que pode crescer ainda mais diante da política do programa brasileiro do etanol.

A preocupação da ONU com os biocombustíveis é respaldada no crescente aumento do preço dos alimentos, fator que pode prejudicar a distribuição de alimentos e, conseqüentemente, aumentar a fome nos países pobres.

É tão bonito a ONU se preocupar com a fome do mundo! Porém, muito se falou no grande potencial de produção de novas fontes energéticas no Brasil, mais limpas, mais baratas, ou seja, ótimas soluções para amenizar o problema ambiental que é (diferente do que a ONU imagina) o grande desafio para os próximos anos.

Estamos diante de uma posição conservadora da Organização das Nações Unidas, diante de uma possibilidade de crescimento econômico de um país relegado ao terceiro mundo.

Isso não passa de uma tentativa de ‘frear’ o crescimento econômico, e o desenvolvimento de um país que aos poucos saí do terceiro mundo (ou melhor, em desenvolvimento) para brigar, também, entre os grandes pela igualdade na política internacional.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Os navios no tempo do descobrimento

22 de abril de 1500. Ao todo foram 44 dias até que a frota de Pedro Álvares Cabral vislumbrasse terra firme. No post de hoje vou fugir do convencional e não vou contar a história do 'descobrimento' do Brasil. A seguir estão trechos do artigo do historiador Paulo Miceli que nos conta um pouco da história da vida nos navios nos tempos do descobrimento.


"O amanhecer no navio, assim como na cidade, podia ser anunciado pelo canto de um galo das capoeiras do capitão, do piloto, do mestre ou do contramestre.
[...]
Quando a viagem transcorria sem incidentes, a comida mal bastva para as necessidades dos embarcados, mas se um longo período de calmaria, a impérícia do piloto ou qualquer outra ocorrência provocassem o alongamento da viagem, a fome atingia o navio de modo implacável.
[...]
(Observe o relato de um viajante que deixava o Brasil em uma viagem de volta à Europa)

"a 12 desse mesmo mês (maio), o nosso artilheiro morreu de fome, depois de ter comido as tripas cruas de seu papagaio, e foi como os outros lançado ao mar. Pouco sentimos sua falta, pois estávamos tão extenuados que daríamos graças a Deus caso fôssemos apresados por qualquer pirata que nos desse de comer. Mas Deus quis afligir-nos durante toda a viagem de regresso e somente um navio foi por nós avistado, mas não nos pudemos aproximar porquantoa nossa fraqueza nos impedia de erguer velas. Nessas alturas, vindo a faltarem as rodelas e até os couros da cobertura dos baús, e tudo mais que no navio podia alimentar-nos, pensamos ter chegado ao termo de nossa viagem. Mas a necessidade que tudo inventa, lembrou a alguns a caça aos ratos e ratazanas que, também mortos de fome por lhe termos tirado tudo que pudesse roer, corriam pelo navio em grande quantidade. (...) Tivemos que cozinhar camundongos na água do mar, com intestinos e tripas, e dava-se a estas vísceras maior apreço do que ordinariamente damos em terra a lombos de carneiro." E Léry (o viajante que nos conta essa história) chegou a acrescentar que os sobreviventes só não praticaram o canibalismo por "temor a Deus, pois mal podíamos falar uns com os outros sem nos agastarmos e o que era pior (perdoe-me Deus) sem nos lançarmos olhares denunciadores de nossa disposição antropofágica.""


Quer mais?


MICELI, Paulo. Dia após dia.... O ponto onde estamos : viagens e viajantes na história da expansão e da conquista (Portugal, séculos XV e XVI). 2ª ed. Campinas : Unicamp, 1997.


Abraços.

domingo, 20 de abril de 2008

O problema da verdade

Que delírio! Por um minuto pensei ter o 'dom' quase divino escrever a verdade sobre todas as coisas. Pensei ser capaz de, diante de um fato, descrevê-lo de maneira que o meu discurso tenha um poder legitimador, e que todos o encarem como uma verdade. Quanta besteira!

Todos nós sabemos que a verdade não existe! Isso não é nenhuma novidade. Mas o que será que estampam diariamente as páginas dos jornais? O que dizem as pessoas que “juram dizer a verdade, nada além de que a verdade” nos tribunais de direito? Ou então, os apaixonados que diante do altar prometem “amar para toda a vida, na saúde ou na doença, na tristeza ou na felicidade”.

Estariam todos mentindo? Acredito que não. Mas então, o que significa a palavra verdade?

Seja no jornalismo ou em qualquer outra atividade do nosso dia-a-dia, sempre somos obrigados a lidar com essa palavra complexa, ambígua e mutante ao mesmo tempo.

A relatividade de seu conceito nos faz concluir que a sua conquista seja algo impossível. Nunca chegaremos à verdade sobre nada. A complexidade dos acontecimentos faz com que um mesmo fato possa ser contado e recontado de diversas formas tornando, assim, impossível a sua reconstrução.

Não estou dizendo que os jornais estão mentindo. Eles apenas apresentam uma visão parcial de mundo. Uma visão completamente ideológica (acredito ser impossível escapar disso na mídia) do que venha a ser um acontecimento.

Poderia enumerar milhares de situações em que a ‘verdade’ está em jogo. Todavia, vou me limitar a somente mais um exemplo. Algo muito mais próximo do cotidiano de todas as pessoas.

No amor, o que é verdade? Algumas situações me fizeram acreditar que, talvez, o amor fosse mentiroso.

Porque prometemos tantas coisas que, às vezes, elas nunca serão cumpridas? Porque diante do altar casais fazem juras de amor eterno, quando na verdade cerca de 5 ou 10 anos depois trocarão juras de ódio eterno.

Diante de tantos exemplos que facilmente encontramos todos os dias, cheguei a conclusão que, na verdade não é que o amor é mentiroso, ou que estamos enfeitiçados por ele ao ponto de fazer promessas que nunca existirão. O amor é relativo.

O homem é ambíguo por natureza. Ao mesmo tempo em que amamos, também odiamos. Nem falar das pessoas que matam em nome do amor. E tudo isso não depende de nós. É algo intrínseco ao ser humano.

O amor não deveria ser encarado como um sentimento. E sim como um estado emocional. Neste momento te quero bem. Daqui a alguns minutos não mais. Talvez te odiarei.

Por este motivo que o amor platônico não existe.

Por enquanto está de bom tamanho. Outrora conversamos mais sobre esse assunto. Abraços.